quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Acto Falhado

E de repente, por duas vezes, o insconsciente quer mostrar ao mundo o que lá se esconde.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Pérolas

“Quando olhamos nos olhos de um cão, simplesmente sabemos. Trespassamos-lhe a alma e sentimos quando não é de confiança.”

A capacidade de ler nas entrelinhas não nos assiste a todos.
Há quem veja preto e branco desconhecendo todo um espectro constituído de milhentas cores e, por isso mesmo, talvez seja mais feliz.

Pois eu, ou não fosse um emaranhado ambulante, tenho a capacidade de ver todas as cores, uma por uma, e se não as decifro invento mais umas. Assiste-me (e atenção que não o digo com orgulho) a capacidade de ler nas entrelinhas. Diria mais - assiste-me a capacidade de ler nas entrelinhas das entrelinhas! Complicado? Muito!

Oiço dizer:

“É normal uma aluna apaixonar-se pelo professor. Parece que existe uma atracção pelo poder ou então deixam-se envolver simplesmente pelas palavras.”

“Eu gosto de ser assim - livre e desprendido!”

“Não acredito nesses amores loucos em que o sofrimento tem que existir.”

“Não pode, com certeza, existir apenas uma alma gémea para cada pessoa!”

O que eu traduzo:

“Mau! Mas será que existem alunas novas que se andam a fazer ao piso? Ou será uma indirecta para - Não te metas com o teu chefe!”.

“Hum… Significa que ando a dormir demasiadas vezes em tua casa? Será que a minha escova de dentes e a minha almofada te estão a sufocar?”

“Para mim é pão pão, queijo queijo. Ou se gosta ou não se gosta. E para se gostar não precisamos de viver para o outro. Ou ela está comigo ou se não quer estar paciência! Há quem queira!”

“Mas ainda existem tontos que pensam que descobriram o amor da vida deles? Almas gémeas? Almas gémeas são as que nós quisermos. É só haver empatia!”.

E é assim que se perdem minutos em pensamentos complexos, entre os lençóis, providos de olhares inquisidores que procuram desalmadamente um sinal.

E é assim que se consegue, por momentos, esquecer todas as outras frases ditas ou como alguém me sussurra ao ouvido

“Mas é preciso dizer? Não te o posso demonstrar?!”

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Cru

Porquê, à distância, não te reconheço como parte?

É um todo quando estamos e um nada quando nos largamos.

E é aqui que os fios se começam a emaranhar, e as pontas não se encontram, cerrando em si nós que firmemente se mantêm.

Queria muito simplificar o descompasso do meu coração, desculpando-o com um simples "Amanhã logo se vê!".

E é aqui que irrompem furiosamente sentimentos de meia verdade, de meia entrega, de meia liberdade. Sou-te doce quando se me esvaziou a lógica e o sentido das coisas, porque quando te leio... Ah quando te leio... Sou-te dura! E não perdoo uma falta de pedido rogado, e em joelhos, para que te ame.

E, no entanto, é este amor que não se desprende do conceito ilusão e que me impele para o desacreditar.

É-te cedo?! Talvez!

Ou então queres-te surdo, cego e sem tacto para que não me possas ouvir, ver ou sentir. Sobretudo para que não te possas entregar!

Ironia? Sim!

És tu quem mais me puxa, crava-me as unhas e enlaça-se-me nas pernas para que eu não fuja. É o respirar na nuca, o leve toque na pele e o riso inocente, que a sete chaves, me encarcera. Leva-me a corrente e eu deixo-me ir, sem tactear o caminho.

Queria muito simplificar as sinuosidades da vida, enfrentando-a com um simples "Amanhã logo se vê!".

Mas tens-me incompleta... Encolhida, segurando-me com força para não desmanchar, acreditando veemente que tu és quem me sustenta.

E o amor?! Esse diz-se de muitas maneiras até mesmo em silêncio.

Frágeis certezas

Havemos de ser outros amanhã
ou daqui a momentos ou já agora
e dificilmente reconheceremos o espaço da alegria
em que noutras horas chegámos a nascer
e então meu amor
(não sei se reparaste mas é a primeira vez
que escrevo meu amor)

teremos nos olhos a cor sem cor
das roupas muito usadas
e guardaremos os despojos das noites
em que tudo sem querer nos magoava
nas gavetas daqueles velhos armários
com cheiro a cânfora e a tempo inútil
onde há muitos anos escondemos
um postal da Torre de Belém em tons de azul
e um bilhete para a matiné das seis no São Jorge
onde um homem (que muitos anos depois
segundo me contaram se suicidou)
tocava orgão nos intervalos em que
nos beijávamos às escondidas

e dessas gavetas rebenta a poeira do tempo
que matámos a frio dentro de nós
com os filhos que perdemos em camas de ninguém
e as pedras que nasceram no lugar das cinzas
e havemos de perguntar (mesmo sabendo que
já não há ninguém para nos responder)
por que foi que nos largaram no mundo
vestidos de tão frágeis certezas
por que nos abandonaram assim
no rebentar de todas as tempestades
sabendo que o futuro que nos prometiam batia
ao ritmo das horas que já tinham sido
destinadas a outros e nunca
voltariam a tempo de nos salvar

mas enquanto vai escorrendo de nós o pó
desses lugares onde ainda há vozes
que não desistiram de perguntar por nós
vamos bebendo a água inicial das nossas línguas
um ao outro devolvendo o pouco
que conseguimos salvar de todos os dilúvios.

Alice Vieira

Palavras...

Sempre amei por palavras muito mais
do que devia

são um perigo
as palavras

quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada

e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos

um perigo
as palavras

mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero

Alice Vieira

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Português Suave


Fiz-me à estrada rumo à terra do “choco frrrito” local de encontro para o almejado fim-de-semana.

A 120 Km/h, e mais alguns pozinhos, num ápice cheguei. Juro que desconhecia uma Setúbal a apenas 20 minutos de Lx! De facto, não há como nos fazermos à estrada às 21:00 e pela Vasco da Gama.

Ora bem, antes de mais tenho que dizer que iniciei novamente “uma vida saudável” … que foi totalmente desgraçada por um néon amarelo, com umas letras gigantes, à entrada de Setúbal. Sucumbi à tentação e lá foi um macflury de M&M’s e umas batatinhas fritas só para fazer tempo. A desgraça…

Parece-me que hoje vai ser aguinha e a bela da saladinha!

Jantámos e partimos.

Km a perder de vista? Sim! Cansaço? Sim! Caminhos de cabra? Sim! Barranco? Sim! Isolados? Sim!

Tal e qual como ele me tinha descrito. Excepto o seguinte:

Não me tinha dito que as estrelas, no meio do nada, estão a um palmo de distancia. E que a companhia certa no pino do frio, apenas com um simples abraço, nos aquece o corpo e afaga sobremaneira o coração.

Finalmente começo a habituar-me à ideia que a coisa se começa a tornar A COISA e que, aos poucos e poucos, o NÓS começa a ser tão natural como um português suave após o café.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Simples IV

24 horas...

- Tive saudades tuas (de verdade).

- E eu também... e tu que tardavas em chegar!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

sábado, 12 de setembro de 2009

Reflicto

Acredito que se pode jogar e ganhar, mesmo quando se pensa que se perde, e também creio no inverso: que às vezes se perde mas se está convencido de que se ganhou.

Um amor atrevido

Passou

Dei-me conta que o Verão passou pelo cheiro a terra molhada que hoje impera no ar e me inebria os sentidos.

E dei-me conta que agora sinto mais o calor do sol, que teima em me beijar a pele, porque simplesmente não estava à espera dele.

O que se segue?

Complicado II

- Quando estiveres farta de comer pratos desconhecidos (por muito saborosos que à primeira dentada de possam parecer) lembra-te que ainda existe o bacalhau com natas.

- E eu adoro bacalhau com natas!

- Por isso mesmo...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Socorro

Respiração
Suspiro

Este ar que me sufoca e limita o racional

Pensamento
Branco
Vazio

Não me sabia capaz do nada

Lento
Ocioso

Sem gesto que me incendeie

Tédio
Apatia
Desconexão

E me faz aceitar o assim-assim

Levantar
Correr

É um caminho onde só a fuga tem lugar.


Mas será que o ponteiro não anda???

Metamorfose


Também durante anos fui perseguida com a pergunta “Então para quando o casamento?”. E era, nesse momento, que eu revirava os olhos, desfazia o sorriso e convictamente dizia em tom assertivo “Eu não me vou casar!”. Tantas vezes o disse, e tanta segurança (ou seria antipatia?!) demonstrei, que a pergunta foi-se desvanecendo até se extinguir.

Também sou assumidamente romântica I., provavelmente até demais! Vivo os sentimentos com exasperação pensando que se não os aproveito até à ultima gota então não vale a pena. Entrego-me totalmente e sem rede. Dou-me e dou! E por isso, estou sempre em risco de quebrar, por vezes pedaço a pedaço, e garanto que é muito mais doloroso.

Também nunca esbocei um casamento de sonho, com vestido, flores, convidados, missa, alianças,… Nunca foi uma ânsia, nunca foi um querer.

Imaginei-o sempre como um acontecimento hipócrita (sem condenar quem o considera um desejo) que apelava ao gasto excessivo de dinheiro e a um contrato - onde eu me tornava literalmente dele e ele se tornava literalmente meu. Como se o amor, de facto, precisasse de um papel e a relação de se tornar visível aos olhos de todos (a famosa anilha!).

Era contra o casamento? Sim, assumidamente!

A tomada de posse causa ruído no amor. Desgasta, esfria-o e torna-o liliputiano. Cria uma falsa certeza de que “Agora é mais difícil O Isto acabar!” nem que seja pela obrigação e pela moral que impelem a que se continue “Juntos para todo o sempre!”.

Mas agora…

Sou contra o casamento? Não...

Considero que não faz mal celebrar o amor e querer ter a bênção do mesmo. Entrar e tê-lo ali à minha espera, e à espera da nossa história, com comoção e desejo estampados nos olhos. Enquanto eu, deslavada em lágrimas, acredito veemente que ele é O Ele. Não preciso de 300 convidados, não preciso de um vestido assinado, não preciso de uma quinta fantasticamente cara, não preciso de uma festa. Não vejo o casamento assim!

Vejo-o antes como uma celebração a nós, intima, acercados dos que nos habitam o coração e abençoado.

E por o considerar espiritual será apenas uma continuação. Continuação de um amor que cresce, de uma cumplicidade mais nossa, de um carinho especial…

É mais um poema num livro com muitas páginas em branco onde nós iremos escrever…

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Programa de sexta-feira à noite


Depois de, inadvertidamente, o ter posto à prova quando o convidei para ver o filme Coco Avant Chanel decidi redimir-me e disse “- Escolhe tu!”. E, fruto de estarmos em perfeita sintonia, escolheu aquele que eu à muito queria ver – Inglorious Basterds. Simplemente fabuloso e de um humor de génio ou não fosse o realizador Quentin Tarantino.

“Each man under my command own me 100 Nazi scalps” e começa a trama. Três planos ocorrem em simultâneo, através de três dimensões diferentes da história (os basterds, o nazi e a judia), com motivações diferentes (variando entre a vingança e o orgulho pessoal), mas todos com um mesmo fim - eliminar nazis.

Um argumento delicioso, actores escolhidos na perfeição (atenção ao Brad que, mesmo de bigode, continua lindo de morrer), cenas que terminam com finais inesperados, humor negro daqueles que nos fazem contorcer de tanto gargalhar, tiros, facas e muito sangue.

Aconselho vivamente!

P.S. Beijos trocados, abraços apertados, encosto no ombro quando as cenas eram mais violentas e nunca… me largou a mão.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Simples III

- Sim, gosto de ti...

- Muito?

- Muito! Se não gostasse, tu não estavas hoje aqui deitada ao meu lado.

Simples II

- Eu sou dificil e se fosse fácil tu não estavas comigo!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Medo II

- …

- Medo? Sim, tenho. Agarra-me, puxa-me e enlaça-me, espartilhando-me e fazendo-me lutar por ar. Não me deixes cair!

- …

- Medo? Sim, tenho. De não te saber ler e de me tornar leitura fácil aos teus olhos.

- …

- Só se for contigo…